Dez anos após título nacional, Tite deseja marcar carreira fora do RS
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Dez anos após título nacional, Tite deseja marcar carreira fora do RS
Um telefonema em outubro do ano passado abriu novamente as portas do futebol brasileiro a Tite. O treinador gaúcho, reconhecido pelos títulos conquistados no Rio Grande do Sul e que estava trabalhando há menos de dois meses no Al-Wahda, não teve a menor dúvida em aceitar convite feito pelo presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, e topou retornar para assumir o comando técnico da equipe depois da demissão de Adilson Batista.
Ainda que o clube árabe fosse disputar o Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro, o que o seduziu foi pegar o time alvinegro entre os primeiros do Campeonato Brasileiro, restando oito rodadas. Ele terminou invicto - cinco vitórias e três empates -, mas viu o Fluminense levantar o troféu. Agora em 2011, mesmo após queda precoce na Copa Libertadores e o vice-campeonato paulista, Tite foi mantido no cargo por Sanchez e voltou a sonhar.
Campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio, em 2001, ele admite, em entrevista à GE.Net, que ainda lhe falta na carreira um título de maior expressão, como o do Brasileiro, fora do futebol gaúcho. "Tem que ser coroado, carimbado com título, tenho essa consciência. (...) Vai dar a notoriedade, o carimbo que, no Rio Grande do Sul, com Grêmio, Internacional, pela grandeza dos títulos, minha carreira teve. Falta sim", ressalta o treinador, que segue invicto e na ponta isolada da atual edição da competição, acima do rival São Paulo.
O ótimo início de campanha não foi tema único na conversa com Tite. Natural de Caxias do Sul (RS), o gaúcho de 50 anos falou também sobre a transição na carreira futebolística, a curiosa passagem à frente de uma equipe de operários, as referências da profissão, a experiência que tem como comunicador nas entrevistas coletivas, Palmeiras, "equilíbrio" e outros assuntos.
CONFIRA A ENTREVISTA COM O TREINADOR DO CORINTHIANS:
GE.Net - Você recentemente citou Ênio Andrade e Capitão Froner. Fala mais dessas escolas de técnicos gaúchos.
Tite - Se a gente puder colocar, a escola do Seu Ênio é a do Telê Santana, do passe certo, da triangulação. Primeiro da jogada curta, dos movimentos de aproximação e passagem. A do Froner é mais marcação forte, da bola área, da bola parada, do contato físico, e mais competitiva. Quem pegar na Argentina, é Menotti (César Luis Menotti, campeão mundial com a Argentina, em 1978) e Bilardo (Carlos Salvador Bilardo, campeão mundial com a Argentina, em 1986). Menotti é mais aproximação, Bilardo é mais competição.
Qual dos dois estilos você prefere?
Sou ''menotista'', Ênio Andrade.
Treinador gaúcho tem virado sinônimo de bom resultado, de trabalho sério. Você concorda?
Não vejo escola gaúcha, sabe? Vejo que, eventualmente, alguns técnicos acabam aparecendo e... Eles são gaúchos, mas tem um monte de técnico paulista, um monte de técnico carioca, não é? Zagallo, que é o grande ícone, multicampeão, é do Nordeste. Enfim... Parreira também, que é um extraordinário treinador.
O Parreira era outra pergunta. Por que você o chama de mestre?
Fui adversário do Parreira, dirigindo Grêmio, ele dirigindo Internacional, e você sabe a grandeza do clássico. Fiz questão de dar um abraço nele, reverenciá-lo. É um grande profissional e uma pessoa que tem equilíbrio emocional e foco. Eu não, eu sou irrequieto (risos). A Renata (Daros, assessora de imprensa do Corinthians) usou um termo bom outro dia. Não é pilhado, como é que é? (vira-se para Renata). Sou hiperativo! Eu não paro, estou toda hora... Ele é mais calmo, mais brando. Mas sempre com coerência, lucidez, que eu tento ter nas entrevistas coletivas. Em termos táticos, ele é um mestre, da escola de marcação por setor, não da marcação individual, como eventualmente acontece.
Como foi seu período de técnico do time de futebol da Marcopolo (empresa do ramo de transporte)?
É, às vezes as pessoas não sabem. Estou no Corinthians, mas eu treinei funcionário de fábrica. Eu treinei funcionário de fábrica! Depois das seis horas da tarde, duas vezes por semana. Eu treinei segunda divisão ao mesmo tempo. Treinava o Veranópolis e treinava a Marcopolo. No sábado, eu tinha um jogo. No domingo, eu tinha outro. Eu me formei em educação física, e ali era um momento de formação minha, veio a possibilidade de trabalhar, a necessidade financeira de trabalhar. Disse ''vamos embora, isso é aprendizado, é uma forma de crescimento''. Isso foi no início dos anos 1990, devia estar com uns 30 anos de idade.
Como era treinar operários? Imagino que o desgaste físico deles era grande.
Com certeza, e aí tu tem que colocar em prática os conhecimentos de educação física. Eu era professor e ex-atleta, iniciando carreira de técnico. Tinha que dosar para não estourar atleta, para que ele não tivesse lesão. Podia atrapalhar a própria saúde dele. Foi um desafio grande.
Hoje você tem Alex, Liedson, Adriano, grandes estrelas. Mas e o pessoal da Marcopolo? Eram todos pernas de pau?
(risos). Cara, a gente tem que guardar as devidas proporções. Mas o lado humano é igual. São as mesmas responsabilidades. O que muda é o número de pessoas (torcida). Mas tinha cobrança minha para comigo mesmo. Tal qual me cobro aqui no Corinthians, eu me cobrava no Guarany de Garibaldi. O tratamento é igual. Tenho como lição tratar de uma forma humana e igual o cara que era funcionário na Marcopolo - e meu atleta - ao Liedson, que é uma grande estrela.Qual foi sua primeira entrevista como técnico?
Uh, cara! Eu não me lembro, eu não me lembro. Mas me lembro quando deve ter sido. Um amigo meu me chamou para jogar no Guarany de Garibaldi, eu disse que não tinha mais condições - tinha passado em concurso público e ia lecionar -, mas comecei a treinar. E usava tênis alto, porque meu joelho doía. Até que teve um dia que meu joelho inchou e eu disse ''não quero mais''. Meu amigo foi para uma equipe melhor, e o diretor falou para mim: ''Tite, assume nos cinco jogos finais''. Assumi. Nós ganhamos quatro, perdemos um e quase subimos para a primeira divisão. Aí ascendeu uma coisa que eu nunca tinha imaginado, que era a possibilidade de ser técnico.
Então foi lá sua primeira coletiva?
Possivelmente, sim.
Pergunto isso porque, nas entrevistas, você se demonstra muito convicto, até para fugir de alguma pergunta. Como é que você foi se acostumando com isso?
Pela minha educação paralela. Primeiramente, pai e mãe. Depois, nunca deixei de estudar. Eu era atleta, jogava, mas comecei com comunicação social, relações públicas, em Caxias do Sul, porque não tinha educação física, que era o que eu queria. Então, à noite, eu ia para a universidade. Durante o dia, eu jogava. Às vezes, recuperava aula de segunda-feira. Depois vim para São Paulo, quando me transferi para o Guarani. Fiz toda minha universidade na PUC (Pontifícia Universidade Católica), eu e minha esposa, em Campinas. Meu filho é campineiro também. Isso foi me dando um pouquinho de experiência para chegar nesse momento.
Principalmente o curso de relações públicas...
Também. Isso vai te dando, claro, rumo, orientação, norte, entonação de voz. Ser conciso na hora em que precisa, que nível de linguagem usar, conforme a necessidade. Agora estou conversando com um repórter, então o nível de linguagem é um. Daqui a pouco, fecha vestiário, vai sair toda hora ''porra, puta que o pariu, que merda, pô, divide, encurta, atropela''. Por aí... (risos)
"Equilíbrio", "desempenho antes de resultado"... Você tem alguns conceitos fechados que costuma repetir. Isso vem de onde?
De experiência própria. Toda vez que falei que tinha que ganhar de qualquer jeito, logo em seguida me ferrei. Ganhar de qualquer jeito? Não ganha. Se tu não te ater ao que te leva a vencer... O grupo tem que saber por que vence e por que perde. Se ele não souber, não vai saber direcionar o trabalho. Equilíbrio, falo para mim mesmo. Sabe por quê? Porque busco isso diariamente, através dos amigos, da família, da oração, para desenvolver meu trabalho.
Conquistar um título brasileiro por um time de São Paulo, da expressão do Corinthians, faria muita diferença na sua carreira?
Faria. É um crescimento profissional muito grande. Independentemente de eu ter o melhor nível de aproveitamento dos últimos 11 anos de Corinthians, é pouco. Tem que ser coroado, carimbado com título, tenho essa consciência. Estive muito perto no Paulista, mas perdemos para a melhor equipe sul-americana do momento, que é o Santos. Bater campeão, fazer uma grande campanha... No ano passado, não vou repetir, todos sabem a minha ideia. Mas neste ano, poder fazer um grande trabalho e bater campeão, vai dar a notoriedade, o carimbo que, no Rio Grande do Sul, com Grêmio e Internacional, pela grandeza dos títulos (três vezes campeão gaúcho, campeão da Copa do Brasil e da Copa Sul-americana), minha carreira teve. Falta sim.E esse time do Corinthians te lembra algum outro time seu?
Comparar é muito difícil. O que a equipe tem hoje é uma transição muito forte, muito rápida. Ela passa de um momento defensivo para um momento de ataque em um piscar de olhos, pela característica que nós montamos. Ela procura ter a ideia de manter um elenco forte para que o atleta se sinta confiante, mas não em uma zona de conforto. Eu explico: tu tem que ter confiança para jogar, mas tem que olhar para o lado e saber que o cara está botando pressão em ti. Se tu não tiver um bom desempenho, outro vai entrar no teu lugar. Mais ou menos, é essa a ideia.
Você se lembra daquele episódio infeliz no Palmeiras, com o Salvador Hugo Palaia (então diretor de futebol), em 2006, quando ele disse que você tinha que calar a boca e falar menos de arbitragem?
Lembro e já foi superado, conversei com ele. Nós já deixamos para trás, porque nós todos erramos, de uma forma ou de outra, falando ou reagindo. Faltou a nós dois uma condição melhor.
Sua campanha era boa no Palmeiras, naquela época, e a diretoria te demitiu (após derrota para o Santa Cruz, no Campeonato Brasileiro). Agora no Corinthians, mesmo com a eliminação na Copa Libertadores, o presidente Andrés Sanchez te bancou. Você sempre fala disso...
Tenho uma gratidão muito grande pelo presidente. Lembro que, quando ele me ligou perguntando se eu queria vir para o Corinthians - eu estava na véspera de um jogo importante pelo Al-Wahda (Emirados Árabes Unidos) -, respondi que queria. Ele disse que ia me esperar encaminhar a situação e me deu a palavra. Fiz o jogo e fui conversar com o xeique para poder vir. As pessoas falam ''ah, técnico, mau resultado, tem que sair''... Tenho certeza de que, quando ele não quiser mais, vai me dizer obrigado pelo trabalho, vou dar um abraço nele e vou seguir em frente, porque nosso relacionamento é assim, direto, sem onda, sem picuinha.
A última... Você sempre usou, nos jogos, camisas na cor do clube em que está trabalhando. Foi assim também no Al-Wahda?
Foi, as cores são bordô e branco lá.
Por que você faz isso?
É uma maneira simbólica de passar para o torcedor o respeito que tenho pelo clube, não só profissional. Mostrar que sou um cara que gosta das pessoas, do clube, e sabe da sua responsabilidade. É uma forma de tentar passar isso, para que ele me veja como parte integrante e não como um cara que veio para cá para pegar (assumir o time) só por dinheiro.
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