Cigano aposta em novo duelo com Velásquez: 'Estarei esperando por ele'

De garçom em Salvador a campeão dos pesos-pesados do maior evento de MMA do mundo, o UFC. A decisão de entrar de vez no mundo das lutas, há cerca de seis anos, mudou a vida de Júnior dos Santos, o Cigano, de uma maneira que nem ele mesmo poderia imaginar. Agora detentor de um dos títulos mais cobiçados do planeta, ele curte a fama e o carinho com o qual é tratado pelo povo brasileiro, que passou a se apegar mais ao esporte nos últimos tempos. E já até planeja outra luta com o americano Cain Velásquez, de quem "roubou" o cinturão no último dia 12:

- Acho que outro confronto entre mim e o Cain é certo. É só uma questão de tempo para acontecer. Ele é um dos melhores pesos-pesados que já vi lutando e, em breve, será o desafiante ao cinturão novamente, e eu estarei lá esperando por ele.

Em entrevista exclusiva ao SporTV.com, Cigano admitiu que, mesmo duas semanas após a maior conquista da carreira, a ficha ainda não caiu totalmente. Ele minimizou o problema no joelho, que chegou a preocupá-lo antes da disputa do cinturão, e revelou o significado do gesto que fez após conquistar a vitória:
- Aquilo ali é um gesto lá da academia do professor Dórea, em Salvador, onde eu treino. Um boxeador, o Bulginha, quando nocauteia em suas lutas, faz aquele gesto e diz: "Cortei!". Foi o que fiz na luta contra o Velásquez, e o que eu gritei era isso: "Cortei! Cortei!".

O novo campeão do UFC, que deve enfrentar o vencedor de Brock Lesnar e Alistair Overeem, combate que será realizado no UFC 141, no dia 30 de dezembro, também reconhece a importância em seu sucesso de Rodrigo Minotauro, a quem define como exemplo de "humildade, determinação, força de vontade e superação". Confira, a seguir, a entrevista na íntegra:
SPORTV.COM: O que significa o gesto que você fez logo depois do nocaute, quando estava sentado na grade? Era uma espécie de cinto de segurança. Deu para perceber que você estava gritando alguma coisa.

JÚNIOR CIGANO: Aquilo ali é um gesto lá da academia do professor Dórea, em Salvador, onde eu treino. Um boxeador, o Bulginha, quando nocauteia em suas lutas, faz aquele gesto e diz: "Cortei!". Foi o Bulginha que comecou com isso, e a equipe adotou o gesto e a frase. Se dominar muito o adversário, o gesto é com as duas maos. Lá, entre o pessoal da academia, pegou, e agora eu faço também quando nocauteio ou bato muito no meu oponente. Foi o que fiz na luta contra o Velásquez, e o que eu gritei era isso: "Cortei! Cortei!".

Você tem consciência da responsabilidade e das expectativas que recairão sobre você a partir de agora? Como está lidando com isso?
Acho que ainda não tenho total noção do tamanho da coisa, mas já senti um pouco isso desde que voltei ao Brasil. Eu sou um cara tranquilo, então eu levo numa boa.



Você está hoje com um alvo no seu peito. É o atual campeão. Como você imagina que fará a diferença daqui para a frente, já que todos os principais rivais estudarão o seu jogo e tentarão traçar estratégias para derrotá-lo em cima do que viram nos vídeos?
Todos que entram para lutar entram sonhando em ser campeões. Então, eu não diria "alvo", mas acho que é natural, sim, as pessoas prestarem mais atencão. Afinal, se alguém quiser se tornar campeão, terá primeiro que passar pelo campeão atual, que, no caso, sou eu. Quanto a estudarem vídeos, isso é muito normal, todos estudam vídeos de seus adversários. Cabe a mim treinar e estar preparado para surpreender, para executar novas estratégias e técnicas.

Que portas esse título do UFC já abriu para você? Já surgiram novas propostas de patrocínio para os próximos combates?
Acredito que o esporte está crescendo muito, e muitas portas ainda se abrirão. Estou muito feliz com a minha posicão e o espaco que ganhei como campeão dos pesos-pesados do UFC.

Eu nunca escolhi adversário e nunca escolherei. O meu interesse é lutar sempre contra os melhores lutadores. Como campeão, isso será natural, e eu lutarei contra o desafiante ao título"

Júnior Cigano, campeão dos pesados do UFC

Você e o Cain são praticamente da mesma geração. Espera enfrentá-lo mais vezes no futuro?
Acho que outro confronto entre nós dois é certo. É só uma questão de tempo para acontecer. Ele é um dos melhores pesos-pesados que já vi lutando e, em breve, será o desafiante ao cinturão novamente, e eu estarei lá esperando por ele.
Qual foi a gravidade da lesão no joelho sofrida durante os treinos? Você chegou a considerar não lutar? O que fez a lesão voltar no sábado?

Nunca considerei não lutar. Foi uma lesão no menisco, não tão grave, mas que exige tratamento e talvez cirurgia, mas ainda estou fazendo exames para saber que tipo de tratamemto se aplicará melhor.
Você apostou no Brock Lesnar como seu próximo rival. Dos pesos-pesados atuais, quem você vê como possível ameaça ao seu cinturão? Alguém da nova geração?

O meu objetivo é lutar contra os melhores, independente de quem seja. A categoria dos pesados é dificil, e sei que grandes desafios estão por vir.

Se você pudesse eleger uma luta dos sonhos, aquela que você ainda gostaria de fazer e que ficaria para sempre na história, contra quem seria, e por quê? E quem é o adversário que você jamais gostaria de ter de enfrentar em uma luta?
Eu nunca escolhi adversário e nunca escolherei. O meu interesse é lutar sempre contra os melhores lutadores. Como campeão, isso será natural, e eu lutarei contra o desafiante ao título.



Antes da luta foi noticiado que você usaria uma música do MV Bill para sua entrada no octógono, mas você usou o tema do filme "Rocky, o Lutador", como de costume. O que aconteceu?

A minha música de entrada sempre foi a do Rocky e vai continuar sendo até eu achar alguma outra música que me motive mais do que aquela. Eu gosto muito do MV Bill, mas nunca houve esse plano, e não fui eu quem divulgou essa informação.
Sua equipe confirmou que Bahia e Vitória estão atrás da sua contratação, e agora certamente outros clubes vão vir atrás de você também. Sabemos que você torce para o Corinthians, mas não acompanha muito futebol. Pretende acertar com algum deles?

O futebol movimenta o nosso país e, como bom brasileiro, eu gosto de assistir e de torcer pelo Brasil. Eu tenho carinho pelo Corinthians pelo fato de o meu pai ter sido corintiano, mas eu não sou corintiano. Acho legal que os grandes clubes queiram apoiar atletas do MMA.

O fato de seu treinador, Luiz Dórea, ser torcedor do Vitória, poderia influenciar?
Eu não seria influenciado pelas preferências ou simpatias das pessoas ao meu redor. Avalio propostas com a atenção que qualquer parceria profissional merece.

Você já ouviu a narração do Galvão Bueno. Alguma vez imaginou que uma luta sua seria narrada desse jeito?
Nunca imaginei. Ouvir o meu nome sendo narrado pelo Galvão Bueno foi uma emoção inexplicável, ainda mais por ele ter se referido a mim como "Junior Cigano do Brasil," assim como ele fazia tão carinhosamente com nosso ídolo Ayrton Senna. O Brasil se emociona com o Galvão narrando o nosso esporte, eu me emocionei quando vi depois a luta com a narração dele, e para mim foi uma honra.



Você tinha dito que a única vez em que ficou incomodado com alguém antes de uma luta foi contra o Werdum. Ele disse que se arrepende disso e que torce por você, e que imagina até uma revanche para o futuro. O que pensa sobre isso?
Werdum é um grande atleta. Eu costumava torcer por ele no Pride, e sei que tudo na nossa luta foi uma estratégia seguida por ele. Desejo muita sorte a ele.

Você é considerado pela mídia um pupilo e sucessor do Minotauro. Como é a relação de vocês? Das coisas que aprendeu com ele, o que você mais destaca?

Rodrigo Minotauro é humildade, determinação, força de vontade e superação. E isso que vejo nele é o que ele me passa. Ou seja, para mim isso significa muito. Foi assim que eu vi ele sendo campeão, e seguindo esse exemplo eu me tornei campeão também.

*Colaboraram: Adriano Albuquerque, Amanda Kestelman e Klima Pessanha.