Árbitro de SP encara dupla jornada e vira diretor da Bahia na Copa

A falta de profissionalização da arbitragem faz com que praticamente todos os juízes encarem dupla jornada, fazendo do futebol uma atividade secundária. Esse é o caso de Rodrigo Cintra, apitador que serve a Federação Paulista de Futebol, mas ocupa um dos cargos mais importantes da Bahia na organização da Copa do Mundo de 2014.

Cintra mora em Salvador e é responsável pela gestão de projetos baianos para o Mundial, um dos cargos mais importantes na organização do estado. É ele quem precisa apresentar propostas de aperfeiçoamento para as mais diversas áreas: da infraestrutura esportiva básica até hotelaria, passando por mobilidade urbana e vários outros setores, como segurança, saúde, desenvolvimento turístico e por aí vai.

A aproximação de Rodrigo com os baianos se deu por questões pessoais, já que em 2006 conheceu sua atual noiva em um cruzeiro que passava pela Bahia. O juiz se mudou para o Estado e, assim, viu sua vida profissional decolar. "O Brasil inteiro associa meu nome à arbitragem, mas sou graduado em Educação Física e sempre fiz muitos cursos na área de marketing esportivo", explica ele em entrevista ao Terra.

No início do ano, quem sugeriu seu nome à organização de Salvador na Copa de 2014 foi Ednaldo Rodrigues, presidente da Federação Baiana. Rodrigo Cintra tinha boa relação com o cartola, que lhe convidara, em 2008, para fazer pré-temporada com os árbitros da Bahia. Novamente por convites, esteve em cinco jogos daquele Estadual, número que dobrou no último ano.

Executivo da Bahia em 2014

A capacitação profissional e o bom trânsito entre os baianos permitiram a Rodrigo Cintra se transformar em um dos mais influentes integrantes da organização do Estado para a Copa de 2014. Diretamente subordinado ao prefeito, ele diz ter entregado, em seis meses, 139 projetos. A meta é que esse número chegue até 200 na Copa do Mundo.

"Nossas maiores exigências são a arena dentro dos padrões Fifa, a construção de um sistema eficiente de mobilidade urbana e o setor hoteleiro", resume, fazendo ainda uma observação. "Esses projetos precisam representar legado para Salvador dos pontos de vista institucional, físico e social".

Para absorver a experiência de outros países, ele fez viagens importantes no último ano: foi à Alemanha e África do Sul, organizadores dos dois Mundiais recentes, e ainda até a Espanha, onde acompanhou in loco o clássico entre Barcelona e Real Madrid. Por isso, 2010 foi um ano praticamente nulo em sua carreira na arbitragem.

A quase aposentadoria e a arbitragem em segundo plano
A apertada agenda por conta de 2014 fez com que Rodrigo Cintra praticamente tivesse que abdicar da arbitragem. No Campeonato Brasileiro, ele só participou de dois jogos e chegou a cogitar a aposentadoria da função. Para o próximo ano, pensa em tentar conciliar melhor.

"Quero apitar, mas tenho a noção de que não poderei abrir mão de compromissos profissionais que já tive nesse ano, com viagens, palestras e cursos. Estou treinando fisicamente, treino tecnicamente, mas o melhor treinamento é o psicológico e ter uma vida saudável. Acho que nunca estive em um momento tão bom", avalia.
Cintra, que resolveu aderir à gestão esportiva por conta da grandeza dos eventos que chegam ao Brasil desde o Pan de 2007, reclama da arbitragem. Para ele, a falta de profissionalização é o que lhe obriga a escolher novos caminhos. "Estou com 34 anos, no meio da minha vida útil como árbitro. Sou pai de família, tenho meus estudos e não posso depender de um sorteio para trabalhar na quarta à noite ou no fim de semana".